Na maioria dos casos verificados, os níveis são aceitáveis, apesar da queda na qualidade da água
por Honório Barbosa - Colaborador
Iguatu. A maioria dos reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) apresenta perda de qualidade da água que é fornecida para a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE). Depois de tratada, a água é fornecida aos consumidores. A tendência, nos próximos meses, é ocorrer uma piora na qualidade mediante a queda de volume dos açudes. Atualmente, o nível médio dos reservatórios é de 9,4%. Dos 151 açudes monitorados, apenas 17 estão com volume acima de 30%. Apesar de a água acumulada apresentar algum tipo de comprometimento em sua qualidade, na maioria dos casos, os níveis ainda são aceitáveis.
Comprometimento
Do total de açudes monitorados, 36 apresentam nível de qualidade em estado hipereutrófico. Isso quer dizer, segundo classificação da Agência Nacional de Água (ANA), que a reserva foi afetada significativamente pelas elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes, com comprometimento acentuado nos seus usos, associado a episódios de florações de algas ou mortandades de peixes. Dessa forma, há consequências indesejáveis para seu uso.
No estado eutrófico, estão 50 reservatórios. No caso, a água apresenta redução da transparência, em geral afetada por atividades antrópicas, nas quais ocorrem alterações indesejáveis na qualidade decorrentes do aumento da concentração de nutrientes e interferências nos seus múltiplos usos. Treze reservatórios estão no nível mesotrófico que significa água com produtividade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos.
Os dados revelam que a água acumulada nos açudes está com algum nível de comprometimento em sua qualidade. Para chegar às torneiras dos consumidores, passa por um processo de filtragem e tratamento químico cada vez mais caro e reforçado. "Temos um alto custo que varia, mas, às vezes, chega a ser cinco vezes maior", disse a superintendente de Controle e Qualidade da Cagece, Neuma Buarque.
Os açudes a cada dia perdem volume por evaporação e consumo mais elevado. Depois de cinco anos seguidos de chuvas abaixo da média e sem recarga, a água acumulada nos reservatórios piora em qualidade. "Tudo isso colabora e exige de nós maior esforço, controle no tratamento e monitoramento. Quando não há alternativa, temos de buscar até a última gota, tratar e fornecer à população", frisou Neuma Buarque.
Alguns sistemas de distribuição entraram em colapso no Interior e houve alternativas de poços profundos e instalação de adutoras. "Se a qualidade estiver comprometida, nós avisamos à população que não consuma a água. Faça outros usos, mas, no momento, não se observa essa situação no Estado", disse Neuma Albuquerque.
Liberação
A Cogerh começou neste mês a operação de transferência de água do Açude Orós para o Castanhão e, daí, para o Sistema Riachão, que abastece a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). São liberados 9 metros cúbicos por segundo e, em breve, essa vazão passará para 16 m3/s.
"Essa água não chegará ao Castanhão porque há usos para irrigação, cultivo de camarão no meio do caminho. Ainda não chegou uma gota no Castanhão", disse o funcionário aposentado do Dnocs José Gomes.
O integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe, Paulo Landim, também acumula dúvidas sobre a operação de transferência de água do Orós, que acumula 22%, para o Castanhão, que está com apenas 6,7% de sua capacidade. "A água está se perdendo no meio do caminho", frisou.
Os reservatórios Orós e Castanhão apresentam níveis intermediários, de qualidade eutrófica. De acordo com o último relatório da Cogerh, divulgado em julho passado, não há nenhum reservatório em situação oligotrófica, que apresenta água limpa e pouca presença de materiais indesejáveis.
Piora
Na medida que os açudes vão secando, a água vai ficando esverdeada e mau cheirosa. Neuma Albuquerque defende, mediante a importância dos reservatórios, para o abastecimento humano, no Ceará, aplicação de medidas preventivas e de mitigação. "Há muita coisa para se fazer. Se a água já está ruim, a implantação ou persistência de piscicultura intensiva piora a qualidade do recurso hídrico. A falta de saneamento nas cidades e localidades ribeirinhas agrava o problema", detalhou.
Na prática, não há adoção dessas ações. Com o decorrer do tempo, o que se observa é a intensificação do problema: mais esgoto e dejetos jogados nos rios e lagoas, que chegam aos açudes e aumento de criatórios de peixe e camarão.
Por meio de nota, a Cogerh reconhece que há um processo de deterioração da qualidade da água, que é característico dos reservatórios do Semiárido que recebem reduzida renovação de seu volume. Por último, informou que água dos açudes é bruta e compete à Cagece ou SAAE decidir até quando pode receber o recurso hídrico que, uma vez tratado, torna-se potável.
Mais informações:
Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh)
Rua Adualdo Batista, 1550
Cambeba - Fortaleza
Telefone: (85) 3218-7020
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