Roberta Jansen
Marília Guimarães tinha apenas 22 anos em 1º de janeiro de 1970, quando adentrou o Aeroporto Internacional de Carrasco, em Montevidéu, determinada a embarcar no voo 114 da Cruzeiro do Sul com destino ao Rio de Janeiro - uma viagem que, ela já sabia, mudaria radicalmente sua vida, para o bem ou para o mal.
Acompanhada dos filhos Marcelo e Eduardo, então com 3 e 2 anos, Marília estava carregada de bolsas com fraldas, mamadeiras e brinquedos, além das bagagens. Por baixo do vestido que trajava, levava ainda, colados ao corpo, seis revólveres.
A jovem professora fazia parte de um grupo de seis guerrilheiros - ou terroristas, como preferia a ditadura militar vigente - de um movimento de esquerda radical contrário ao regime. O objetivo dos seis era sequestrar o avião Caravelle e levá-lo para Cuba, onde Marília e os dois filhos poderiam viver em liberdade.
Há um ano na clandestinidade com as duas crianças pequenas, Marília dormia a cada noite em um lugar diferente para despistar os militares. A captura de uma aeronave era a única saída que ela conseguia vislumbrar para voltar a ter uma vida normal. Naquele momento, a ideia não parecia mais perigosa do que vagar sem rumo com os meninos sob a ameaça constante da prisão e da tortura.
"Quando você já está no perigo, tem uma força que nem sabe de onde vem", explica. "É como parir: chegou a hora, vai doer, mas não tem outro jeito."
A bagunça que os meninos faziam no saguão do aeroporto era tanta que acabou concentrando a atenção de policiais e funcionários do aeroporto. O embarque ocorreu sem nenhum problema - na época, não havia detector de metais no terminal de Montevidéu.