Erika Ender, que se refere ao país como sua segunda terra e já trabalhou com Leonardo, deu tom 'suave, suavecito' ao hit. Ela queria uma letra provocante, mas 'com classe'.
Por Carol Prado, G1
A compositora panamenha Erika Ender (Foto: Reprodução/Facebook/Erika Ender)
Se reparar direitinho, “Despacito” - a música mais falada (e ouvida) das últimas semanas - bem que poderia ser made in Brasil: tem a letra sensual, a melodia irresistível e a coreografia insinuante que o país sabe fazer bem. Não é. Mas, lá no fundo, há sim algo de verde e amarelo na composição.
Por trás do sucesso de Luis Fonsi, há o nome da panamenha Erika Ender, que costuma se referir ao Brasil como sua “segunda terra”. Filha de mãe brasileira e considerada uma das mais importantes compositoras de seu país, ela assina a criação ao lado do cantor portorriquenho.
“Nessa época em que vivemos tão apressados, quem não reconhece a importância de desfrutar as coisas? Aproveite a vida como diz a música: 'pasito a pasito, suave, suavecito’.”
Na declaração acima, em uma entrevista à agência Efe, a artista filosofa sobre a letra da música, que ensina como conquistar uma garota “lentamente” (é isso que significa, afinal, o tal “despacito”).
No programa “Despierta América”, da TV americana, Fonsi contou que tinha em mente alguns versos e a melodia da música há dois anos. Ele se juntou à amiga em seu apartamento em Miami (o encontro foi registrado em vídeo, assista) e os dois, então, chegaram ao resultado final: um reggaeton pop com pegada urbana e trechos de hip hop.
O convite ao também portorriquenho Daddy Yankee veio mais tarde, porque Fonsi e Erika acharam que faltava à canção “um momento explosivo”. Mas a explosão aconteceu mesmo quando Justin Bieber decidiu surfar na onda do sucesso latino, em sua estreia cantando em espanhol. O remix com Fonsi, Yankee e Bieber foi decisivo para que o hit acumulasse números surpreendentes:
- Mais de 1,6 milhão de cópias vendidas entre fevereiro e abril deste ano
- Primeiro lugar mundial entre as mais tocadas no Spotify (marca inédita para uma música em espanhol)
- Em 24 horas, mais de 20 milhões de visualizações na publicação do remix com participação de Justin Bieber no YouTube
- Quase 1,2 bilhão de visualizações no clipe oficial no YouTube
- 15 semanas (e contando) na lista das 100 músicas mais ouvidas da "Billboard"
"Eu sou do tipo que pensa que os limites só existem na mente e, durante toda a minha vida, quis trabalhar com artistas diferentes, independentemente de quaisquer fronteiras musicais, mas Justin Bieber foi uma surpresa, como foi também 'Despacito'", disse Erika à Efe.
Sexy sem ser vulgar
No processo de criação da música, a compositora trabalhou principalmente na elaboração da letra, segundo contou à revista "Billboard". Foi ela quem deu o tom "suave, suavecito" à canção, que é sexy sem ser vulgar. Era o que Erika queria: versos provocantes, mas "com classe". Ou, como diz a letra, "malícia com delicadeza".
"Eu disse [a Fonsi]: 'Se vamos fazer algo com um apelo sexy, acho que precisamos ser responsáveis com uma boa letra'. Em seguida, a versão pop nasceu."
O próprio cantor buscou esse equilíbrio, ao se juntar à artista. Em uma entrevista à rede de TV americana Telemundo, ele explicou que prefere escrever com autoras, para balancear o teor das canções. "Me parece que a música fica mais redonda, tendo o ponto de vista do homem e da mulher. Especialmente porque 99% das minhas canções falam da mulher.”
Não é a primeira criação conjunta da dupla. Erika e Fonsi também são responsáveis por "Tentación", uma espécie de pop rock romântico lançado em 2014. Perto de "Despacito", porém, a música passou batida: foi lançada apenas na versão deluxe do álbum "8" do cantor e sequer ganhou um clipe.
Sertanejo no currículo
Em 25 anos de carreira, Erika ajudou a criar desde baladas como "Cinco minutos", umas das músicas mais famosas da mexicana Gloria Trevi, e "Candela", do portorriquenho Chayanne, a hits da salsa, entre eles "Me corta el alma", de Víctor Manuelle, também de Porto Rico. Arriscou-se ainda no sertanejo brasileiro, quando trabalhou com Leonardo em "Quero acender teu fogo".
A trajetória musical lhe rendeu prêmios no Grammy Latino e no Latin Billboard e uma posição na lista das 50 mulheres mais poderosas da América Central, segundo a revista "Forbes". Mas seu currículo vai além das composições: a artista também é uma personalidade da televisão hispânica, com participações em séries e reality shows.
Nada disso, porém, levou Erika tão longe quanto "Despacito". A música rodou o planeta e mudou a vida da compositora, que quer aproveitar o momento para ampliar as oportunidades além da América Latina. "Tenho tido contato com artistas que nunca trabalhei antes", contou à Efe. Em suas redes sociais, tomadas por postagens sobre o êxito do hit, ela faz questão de dizer que mais gente também lucrou com o fenômeno:
"É uma grande conquista, não só para aqueles que estão envolvidos na canção, mas para a música latina no mundo."
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