Patricia Sulbarán Lovera
Uma bola de fogo cruzou o céu na cidade amazônica de Pucallpa, no norte do Peru. Ela desceu rapidamente e deixou um rastro branco no céu, durante o entardecer do sábado do último dia 27 de janeiro.
"Olha o meteorito, olha o meteorito!", gritou um morador local, como mostra um vídeo publicado no YouTube.
O objeto que passou em Pucallpa aterrissou em Puno, também no Peru, a quase 2 mil km da cidade onde as imagens foram registradas em vídeo. Ninguém ficou ferido tampouco foram registrados danos materiais.
A imprensa local descreveu o objeto como "uma bola de fogo incandescente". Três dias depois, autoridades aeroespaciais do Peru tentaram decifrar exatamente o que era e de onde vinha.
Segundo as autoridades, não se trata de um meteorito. E não foi apenas um, mas quatro objetos que caíram em Puno.
Três objetos tinham forma esférica e o quarto parecia uma peça metálica irregular, de acordo com Gustavo Henríquez, secretário-geral da Comissão Nacional de Investigação e Desenvolvimento Aeroespacial do Peru (Conida, na sigla em espanhol).
Henríquez disse que o trajeto do objeto incandescente que passou por Pucallpa também foi observado no Acre, no Brasil.
Tanques de combustível?
Para o secretário-geral da Conida, o "mais provável" é que se trate de tanques de combustível de satélites. Uma comissão da agência aeroespacial foi enviada a Puno para investigar o caso.
Autoridades americanas, por sua vez, confirmaram à BBC Mundo que "um corpo do foguete russo SL-23 retornou à atmosfera em 27 de janeiro de 2018 e passou sobre América do Sul (próximo do Peru) às 23h32 GMT (18h32 hora local) aproximadamente".
A projeção foi feita pela agência americana que faz parte do Centro Conjunto de Operações Espaciais (JSpOC, na sigla em inglês), que monitora mais de 23 mil objetos na órbita da Terra.
A informação divulgada pelo governo dos EUA também está disponível no site da Aerospace, empresa que faz pesquisas científicas independentes desde 1960.
O corpo do foguete que voltou à Terra fazia parte de uma missão espacial para o lançamento do chamado AngoSat 1, o primeiro satélite de comunicações de Angola.
Em 26 de dezembro do ano passado, a empresa russa RSC Energia, fabricante do satélite, lançou a missão a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. No entanto, nem a empresa nem a Roscosmos, a estatal aeroespacial russa, publicaram informação sobre os objetos encontrados no Peru.
Gustavo Henríquez afirma que o fato de não ter sido notificada do possível regresso desse foguete preocupa a agência espacial peruana.
"Segundo convenções da ONU, esses avisos devem ser feitos para que as nações fiquem em alerta e para que o país responsável possa ressarcir eventuais danos", observa.
Foi por isso, diz Henríquez, que foi aberta investigação junto à chancelaria peruana para tentar identificar as causas do incidente.
Perigoso?
Segundo o secretário-geral da Conida, as áreas onde os objetos aterrissaram foram isoladas porque, "se forem tanques de combustível de satélite, podem ser muito perigosos".
"Normalmente eles carregam hidrazina, um propelente tóxico que, quando em contato com o combustível, coloca vidas em risco", disse ele.
No entanto, as imagens divulgadas pela imprensa peruana mostram que moradores locais chegaram a mover um dos objetos para revelar o buraco de 30 centímetros que ele deixou no solo.
Henríquez argumentou que, se for um tanque, as altas temperaturas da decida pela atmosfera podem ter feito o combustível evaporar. Ele diz que não se recorda quando objetos de lixo espacial caíram no território peruano.
"Se isso aconteceu, foi há muito tempo", diz.
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