No período de 21 a 27 de agosto deste ano, ocorreram 128 assassinatos no Ceará, quase uma morte por hora.
Levantamento realizado pelo G1 mostrou que em uma semana – de 21 a 27 de agosto – o Ceará registrou 128 assassinatos, quase uma morte violenta por hora. A estatística coloca o estado como o recordista - em números absolutos - entre todos os 27 estados da federação que figuram no estudo. Em todo o país, foram 1.195 pessoas mortas em 546 cidades - quase 10% do total de municípios brasileiros.
Como o Ceará, mais de 45 cidades registraram índice superior a 10 mortes a cada 100 mil habitantes – índice considerado extremamente alto se for levado em conta o período de apenas sete dias analisados (já que a taxa é usada como parâmetro anual). Para fazer o levantamento, o G1 CE acessou as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Os números integram um levantamento nacional feito pelo G1, que é o ponto de partida de uma parceria com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O projeto tem um nome: Monitor da Violência. Com uma série de iniciativas que envolvem reportagem e análise de dados, o projeto vai fazer o acompanhamento desses e de outros casos de violência no país.
Facções
De acordo Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do NEV, dois grandes grupos de estados estão enfrentando os maiores problemas com a violência no Brasil este ano: aqueles onde aumentaram os conflitos entre facções rivais, principalmente depois das rebeliões nos presídios no começo do ano, como Rio Grande do Norte, Amazonas e Ceará; e os estados que viram suas políticas de segurança bem-sucedidas serem desmontadas, casos do Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo.
Segundo o pesquisador, apesar dos momentos de tensão no sistema penitenciário no começo do ano, o Ceará não foi palco de massacres nas prisões. Em compensação, a rivalidade entre os grupos organizados nas prisões têm contribuído para diversos conflitos nos bairros e cidades do Estado.
"Os embates estão concentrados principalmente entre a quadrilha local, os Guardiões do Estado, aliados do Primeiro Comando da Capital, e o Comando Vermelho, que atua em parceria com a Família do Norte. Os desafios entre as gangues e os conflitos são cantados e narrados em vídeos e proibidões na internet, que se espalham em pelo menos 20 páginas do Facebook", diz.
Premeditação
Por que tanta gente se mata? Quais são as razões desses assassinos? Apesar da imensa variedade de motivos por trás de cada uma das mortes, o que mais chama a atenção é a grande quantidade de casos com características de execução, alerta o pesquisador.
Na manhã de sábado do dia 27, no município de Caucaia, na Grande Fortaleza, Daniel Silva de Abreu chegou de moto para matar Francisco Breno Araújo Barbosa e Marcelo Moura Vieira, de 16 anos, perto da linha do trem. Horas depois, ele foi preso, com uma pistola e munições. Na delegacia de Caucaia, ele afirmou aos policiais que matou os dois porque vinha sendo ameaçado. Segundo o assassino, ele praticou o homicídio “antes que pudesse sofrer algum atentado”.
Segundo o pesquisador, esse procedimento significa que boa parte dos autores não age por impulso, nem por loucura, nem porque estava bêbado ou sob efeito de drogas. Eles matam e sabem o que fazem, tiveram tempo para pensar e calcular antes de executar a vítima. Naquelas circunstâncias em que agiram, enxergavam o assassinato como um instrumento para resolver seus conflitos. Acreditavam que o homicídio era a melhor solução para seus problemas.
Casos nebulosos como o assassinato de Bruno dos Santos Morais, de 24 anos - que foi perseguido por homens que estavam em um Gol, antes de ser executado com tiros nas costas e morrer no meio da rua - na maioria das vezes, ficam esquecidos.
Banalização
Em pouco mais de uma hora, dois homicídios no mesmo bairro no município do Crato, sul do estado. No dia 26, uma mulher morreu com um golpe de faca após discussão com a vizinha. De acordo com a Polícia Militar, Maria Eliana da Silva Sousa, de 41 anos, teve a morte confirmada cerca de uma hora após o entregador de pizza Paulo Ricardo da Silva Roque, de 24 anos, ser assassinado com golpes de facas enquanto fazia a entrega de uma encomenda. Paulo Ricardo sofreu pelo menos sete golpes de faca em várias partes do corpo e foi encontrado sem vida.
Feminicídio
Apesar de os homens serem maioria entre as vítimas, o número de mulheres assassinadas – especialmente pelos companheiros ou ex-companheiros – também chama a atenção. É um dado que só cresce. Ainda assim, poucos casos são classificados como feminicídios, o que denota uma subnotificação nos registros deste tipo de crime.
Patrícia Ferreira da Silva, morta a tiros em Icó pelo ex-companheiro, que dizia não ter “superado” a separação. Sancionada há pouco mais de dois anos, a Lei do Feminicídio aumenta a pena para assassinatos contra mulheres cometidos em razão do gênero. Mas ainda é pouco aplicada.
Com informações do portal G1
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