Aposentada faz quimioterapia pela metade; 'não tenho a quem recorrer', diz.
Governo diz que produto não é padronizado; Justiça já ordenou aquisição.
Na luta contra o terceiro câncer em 11 anos, a aposentada Lucimar Brito criou uma vaquinha na internet para arrecadar dinheiro para os medicamentos da quimioterapia. O custo mensal dos produtos chega a R$ 30 mil e, mesmo com decisão judicial favorável, a paciente ainda não conseguiu obter os remédios pela rede pública do Distrito Federal.
Os pedidos à Justiça foram feitos em agosto mas, até este domingo, Lucimar só recebia dois dos três medicamentos de alto custo que compõem o tratamento. Nesta quarta (23), o Tribunal de Justiça do DF determinou que a Secretaria de Saúde forneça a terceira substância, o Pertuzumab, que custa cerca de R$ 10 mil.
Em nota ao G1, a Secretaria de Saúde informou que "já foi notificada da decisão judicial e está providenciando a aquisição do medicamento", mas que "não há previsão para a disponibilidade". O Pertuzumab não é fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Sem o apoio do governo, familiares criaram uma campanha na internet para arrecadar o valor do remédio – e evitar que Lucimar passasse mais tempo com o tratamento "pela metade". Desde o começo de outubro, a campanha arrecadou pouco mais de R$ 2 mil, quantia que representa um quinto do valor de uma dose. “Eu não tenho mais a quem recorrer, tudo o que eu podia fazer eu fiz”, diz Lucimar.
O remédio precisa ser tomado a cada 20 dias. A primeira dose precisa ser dupla, com 840 ml – é a chamada "dose de ataque". Na rede privada, segundo a aposentada, o valor completo do tratamento pode chegar a R$ 30 mil.
"Os remédios que estou tomando me dão mais expectativa de vida, mas se tivesse o outro, o tratamento seria mais eficaz", afirma.
Em vídeo publicado na página, ela afirma que não se importa com as dificuldades do tratamento se tiver a chance de viver por mais tempo. “Eu não ligo. Os remédios me dão alergia nas mãos, mas sabendo que eu vou viver, eu não acho ruim. Ruim é não tomar o remédio.”
Na decisão da última quarta, a juiza determina o prazo de 15 dias para que a Secretaria de Saúde forneça o remédio "sob pena de responder por crime de desobediência e sequestro de verbas públicas". A pasta informou que "assim que o remédio estiver disponível, entrará em contato com a paciente, para que ela faça a retirada do produto na Farmácia de Ações".
Terceiro câncer
Este é o terceiro câncer que Lucimar tenta combater. Descoberto em um exame de rotina em 2014, ela fez quase 30 sessões de quimioterapia para tratar o tumor no pescoço. O primeiro câncer, de mama, foi descoberto em 2005 e o segundo, em 2011.
Este é o terceiro câncer que Lucimar tenta combater. Descoberto em um exame de rotina em 2014, ela fez quase 30 sessões de quimioterapia para tratar o tumor no pescoço. O primeiro câncer, de mama, foi descoberto em 2005 e o segundo, em 2011.
“Estamos procurando todo tipo de ajuda, porque ela precisa retomar o tratamento e nós não temos condições de pagar por ele”, afirma o sobrinho Ubiratan Silva.
“Está difícil, já estou desanimando. A cada 20 dias tenho que tomar uma dose; a cada 20 dias é R$ 10 mil reais”, afirma Lucimar.
Aposentada há dois meses do serviço de secretária em um editora de livros, ela diz que a quimioterapia mudou completamente a rotina de vida. "Eu gostava muito de trabalhar, de fazer as coisas, sempre fui muito ativa. E me incomodou ter que parar tudo, fiquei muito debilitada."
O maior apoio vem das filhas, de 16 e 18 anos. "Tem hora que dá vontade de desistir, mas eu penso nas minhas meninas. Elas estão do meu lado, me ajudando. Sempre querem me acompanhar na quimio, mas eu não deixo perderem aula", afirma.
Batalha de 11 anos
O primeiro câncer foi identificado em 2005, quando Lucimar encontrou um nódulo no seio esquerdo. Como a descoberta foi tardia, a metástase estava em grau avançado e foi preciso fazer a mastectomia – cirurgia que remove a mama. Ela afirma que, desde então, faz tratamentos pelo SUS, mas enfrenta dificuldades no atendimento.
O primeiro câncer foi identificado em 2005, quando Lucimar encontrou um nódulo no seio esquerdo. Como a descoberta foi tardia, a metástase estava em grau avançado e foi preciso fazer a mastectomia – cirurgia que remove a mama. Ela afirma que, desde então, faz tratamentos pelo SUS, mas enfrenta dificuldades no atendimento.
"A rede pública deixa muito a desejar, porque o médico pede todos os exames para ver se o câncer evoluiu, se melhorou, e a secretaria não me chama para fazer." Segundo ela, o tempo de espera para fazer os exames – "que são muitos" – pode chegar a quatro meses, seguidos de outros dois meses até o resultado.
No primeiro tratamento, Lucimar fez oito sessões de quimioterapia e 28 de rádio – tratamento que utiliza radiação para destruir ou impedir que células cancerígenas se multipliquem. Em seguida, ela passou cinco anos tomando remédios em casa para evitar que o tumor voltasse a se manifestar. “Fiquei quase seis anos sem câncer. Os medicamentos que eu tomava sequer me causavam mal estar”, conta.
Mas, em 2011, Lucimar descobriu outro tumor em um exame de rotina. “Tinha um carocinho perto da minha clavícula, no lado direito.” Desta vez, o câncer foi identificado cedo e a intervenção cirúrgica foi suficiente para removê-lo por completo. “Não tive que fazer nenhuma sessão de quimio ou radio. Voltei pra casa sem câncer", diz.
Três anos depois, em 2014, um câncer apareceu nos linfonodos cervicais – que ficam na região lateral do pescoço. As sessões de quimioterapia tiveram que ser retomadas e, desde então, Lucimar não parou o tratamento. “O médico disse que, desta vez, não dava pra fazer cirurgia.” Até esta sexta (25), ela já tinha sido submetida a 30 sessões e "algumas trocas de medicamento", porque provocavam alergia ou paravam de sutir efeito.
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