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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

GRUPO LUTA POR JUSTIÇA E PRESTA ASSISTÊNCIA A PARENTES DE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA NO CEARÁ.

Casos ganharam projeção nacional graças à atuação da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas da Violência, que existe há 17 anos

Por Rosana Romão em Cotidiano

Associação costuma fazer manifestações públicas. (FOTO: arquivo pessoal)

Associação costuma fazer manifestações públicas. (FOTO: arquivo pessoal)
Associação costuma fazer manifestações públicas. (FOTO: arquivo pessoal)
Mais de 20 anos esperando por justiça. Além da dor de perder um ente querido, esse é um drama comum entre as pessoas que aguardam os trâmites da justiça brasileira.
Conviver com uma perda e ainda ter força para cobrar a investigação do crime e a punição do responsável pode parecer difícil; mas, no Ceará, existe uma associação que presta assistência aos parentes e amigos de vítimas de violência, dando apoio profissional e social.
São cinco advogados, dois psicólogos e vários voluntários que fazem parte da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas da Violência (Apavv), que existe há 17 anos. Fundada por Oneide Braga, possui mais de 2 mil associados e alguns dos casos assistidos já tiveram repercussão nacional, entre eles o da cearense Maria da Penha, que resultou em lei.

“Éramos 12 pessoas que lutavam isoladamente por justiça. Com o apoio do sindicato dos bancários formamos esse grupo no dia 12 de junho de 1999, quando é comemorado o Dia dos Namorados, por isso digo que é um caso de amor”, explica a idealizadora Oneide. O grupo presta apoio psicológico, jurídico e social para quem não tem recursos financeiros e possui apenas esperança em alcançar justiça.
A cearense Maria da Penha foi coordenadora da Apavv durante seis anos, o que a deu projeção, posteriormente nomeando a principal lei brasileira de combate à violência contra a mulher. Outro caso revelado pela associação foi a morte de Damião Ximenes Lopes, portador de doença mental. Ele morreu quando estava internado em um manicômio no interior do Ceará, sob custódia de um hospital público. As perícias revelaram sinais de tortura, agressões físicas e atendimento médico deficitário, ou praticamente inexistente. Depois de 19 anos, o estado do Ceará foi condenado pelas instituições internacionais.
Bailarina e atriz, Renata Braga foi vítima de homicídio aos 20 anos (FOTO: Arquivo Pessoal)
Bailarina e atriz, Renata Braga foi vítima de homicídio aos 20 anos (FOTO: Arquivo Pessoal)
Bailarina morta por acidente
Oneide Braga fundou a Apavv devido a morte de sua filha, Renata Maria Braga de Carvalho. Aos 20 anos, a jovem foi morta com um tiro de pistola no olho esquerdo. O disparo foi efetuado por Wladmir Lopes, que discutia com os ocupantes do carro onde estava a vítima. Na época, Wladmir tinha 16 anos e era estudante de Geografia, Ele tentou fugir mas foi preso em flagrante horas depois. O caso de arrastou na justiça por 22 anos e só teve a sentença declarada em agosto deste ano, sendo preso na última quinta-feira (9).
Durante esses 22 anos, Oneide persistiu em acreditar na justiça e a motivar as pessoas a terem esperança e fé em Deus. “Me perguntavam há quanto tempo eu mendigava por justiça. E foram mais de 20 anos. Diziam para que eu desistisse porque eles tinham dinheiro, mas eu tenho Deus. E isso serve de exemplo para as vítimas da Apav. O maior mérito foi mostrar que lutando por vias legais e com muita fé em Deus a gente consegue”, desabafa.
Ela conta que um presidiário ligou para o pai de Renata se oferecendo para matar Wladmir Lopes quando ele fosse preso, mas o pedido foi recusado, pois a família acreditava na justiça. “O pai do assassino bradava que o filho dele não iria ser preso enquanto ele tivesse dinheiro. Mas depois de 22 anos a justiça foi feita. Não sei nem se posso chamar de justiça, porque foi tardia”, comenta.
Muitos se desiludem porque a justiça deveria acontecer naturalmente, e não dessa forma, de ficarmos buscando, mendigando, lutando. (Oneide Braga)
O grupo não busca as vítimas, mas quando é procurado presta toda a ajuda necessária, incluindo visitas, reuniões e assistência psicológica e jurídica. Entre as ações de mais visibilidade, a Apavv participou do protesto contra a impunidade, com cruzes em frente ao Tribunal de Justiça de Brasília, além vigílias nas ruas de Fortaleza. Porém, algumas dessas manifestações nos bairros tem recuado devido à violência.
Como não possui sede física ainda, as reuniões acontecem no Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, nos primeiros sábados de cada mês, às 10h. É possível também entrar em contato através da fanpage e do telefone (85) 3016-3299. “Não queremos fazer justiça com as próprias mãos, quero fazer da Apav uma terapia, um lugar comum. Tem pessoas que sofrem com pressão da família para parar de chorar, já aqui ela é acolhida e conhece pessoas iguais que estão superando e superaram” detalha Oneide Braga.
Ela também cita boas iniciativas que podem acontecer após uma tragédia, como o Instituto Tonny Ítalo. Criado pela mãe do inspetor da Polícia Civil que morreu em um assalto em janeiro de 2015, o instituto desenvolve ações para a comunidade, como instalação de bibliotecas e eventos para crianças. Mesmo com 64 anos de idade e aposentada, Oneide dá vida à Apavv pois acredita na luta pela justiça e para ajudar vítimas com dificuldades financeiras.
Casos não solucionados
Entre os casos que ainda não foram concluídos está a morte do professor universitário e cineasta Eusélio Oliveira. Ele foi assassinado em 1991 em frente a uma locadora de vídeos na Avenida Heclálito Graça, no centro de Fortaleza. O crime foi motivado por uma discussão banal. O disparo tiveram autoria do sargento reformado da marinha Luiz Rufino.
Dono de uma banca de revistas, ele reclamou que o filho de Eusélio teria estacionado o carro de forma a atrapalhar o seu negócio e iniciou uma discussão. Quando Eusélio e o filho voltavam da locadora, o militar voltou a discutir com o professor, sacou um revólver e efetuou três tiros. Mesmo após 25 anos, o autor dos disparos continua em liberdade, com aproximadamente 80 anos de idade e a família da vítima ainda espera por justiça.
Outro caso que se arrastou na justiça por mais de 20 anos foi o assassinato da empresária Ethel Angert. O disparo foi efetuado pelo seu marido, também empresário, Flávio Carneiro, durante o despejo em uma de suas lojas no centro.
Motivação
Apesar de acompanhar vários casos de impunidade, Oneide não desanima e até se motiva a continuar com o trabalho da Apavv. “Você acaba conhecendo outros casos, alguns de perversão, de maldade mesmo. E vê que a nossa dor é muito pequena comparada a de outros. Então, você usa o amor que Deus lhe deu para ajudar outras pessoas. A Apavv transformou a minha vida, transformou o meu luto em luta”, complementa.
Por fim, ela incentiva as pessoas a não desistirem e terem fé em Deus. “No caso da Renata, eu não desisti em nenhum momento. O responsável era uma pessoa que tinha poder econômico alto, apadrinhado por desembargador, com condições de pagar bons advogados mas eu não desisti. Com a minha fé em Deus eu tentei e consegui”, encoraja.
Oneide também enfatiza que o mérito da Apavv é de mover as pessoas e fazer com que elas acreditem na justiça por meios legais, e não com as próprias mãos. “Quem foi vítima, sabe que a violência deve ser minimizada e não praticada. Por isso não se desiludam e acreditem”, finaliza.
Associação de Parentes e Amigos Vítimas de Violência
Contato: (85) 3016-3299 | fanpage

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