Deputado federal, senador, governador e ministro. Com trajetória marcada pela implantação de novo modelo de gestão no Estado, Virgílio Távora faria 100 anos hoje. Especialistas comentam as bases do desenvolvimento do Ceará
Fonte:Política/Por Verônica Prado e Luana Barros
Centenário do ex-governador cearenseFoto: Antonio Vicelmo
Desde os anos de 1990, os governantes cearenses falam no desenvolvimento com base na industrialização e em empreendimentos âncoras como refinaria de petróleo e siderúrgica. Esse formato, que desafia o Ceará ainda hoje, foi pensado por Virgílio de Morais Fernandes Távora. Hoje, 29 de setembro, o ex-governador do Estado completaria 10O anos e segue sendo lembrado como o político progressista que pensou o desenvolvimento do Ceará e mais do que isso: estabeleceu um planejamento estratégico baseado em metas, ideias com forte influência sobre a vida política e econômica cearense.
Virgílio foi deputado federal, senador, governador e ministro. Nos dois mandatos como chefe do Executivo Estadual (1963 a 1966 e 1979 a 1982), defendeu projetos estruturantes. “Ele foi um homem que viveu muito mais para a política do que viveu da política”, resume Filomeno Moraes, cientista político e professor da Pós-Graduação de Direito Constitucional da Universidade de Fortaleza.
Em um estado com economia centrada na atividade agrícola e de subsistência, ele implantou um planejamento estratégico que permitiu avanços. Foi na gestão dele que se pensou projetos como a criação de distritos industriais – inclusive o de Maracanaú -, uma siderúrgica, uma refinaria de petróleo e a construção de um porto. “Havia uma persistência do Virgílio na busca de realização de um projeto de desenvolvimento para o Ceará”, acrescenta Filomeno Moraes.
Nessa persistência e na construção realizada nos diferentes cargos que ocupou - e principalmente como governador - que estão os alicerces do Ceará equilibrado financeiramente que encontramos hoje. “Isso não acontece de repente. Nós devemos em muito os caminhos para o desenvolvimento do Ceará (de Virgílio Távora). Ele fez essa transição”, diz o historiador Juarez Leitão.
O diálogo com diferentes partes do espectro político também esteve presente. “Ele chamou gente de todas as linhas de pensamento para integrar o seu Governo, porque trabalhava sem preconceito, querendo uma equipe de qualidade”, detalha Leitão.
Ele encerrou ainda práticas comuns a governantes anteriores, como a transferência de delegados, professores e coletores - os antigos auditores fiscais. Antes cargos perseguidos quando eram adversários políticos, as profissões passaram a ser entendidas como técnicas e, portanto, retiradas dos jogos políticos.
Essa construção permite a Virgílio Távora alcançar objetivos desenvolvimentistas. “Ele transformou o Ceará em um Estado viável. A industrialização passou a ser uma referência de sustentação muito séria. Ele fez o chamado pacto agrícola-industrial, estimulando a produção agrícola”, afirma Juarez Leitão. “Virgílio era um desenvolvimentarista. Foi um homem que, em 1953, deputado federal, foi autor da emenda que criou o monopólio do petróleo no Brasil e consequentemente a Petrobras.
Um homem que praticamente construiu Brasília, pois o Juscelino (Kubistcheck) era presidente, mas o diretor da Novacap (empresa criada para gerir a construção da Capital) era Virgílio”, relata o escritor César Barreto, autor do livro “Virgílio Távora - O estadista cearense”.
Um homem que praticamente construiu Brasília, pois o Juscelino (Kubistcheck) era presidente, mas o diretor da Novacap (empresa criada para gerir a construção da Capital) era Virgílio”, relata o escritor César Barreto, autor do livro “Virgílio Távora - O estadista cearense”.
“Meu pai seguia seus princípios, mesmo pagando um preço alto”, lembra a filha Tereza Távora, em declaração que consta no livro citado. Na ocasião da inauguração de Paulo Afonso, na frente do presidente Castelo Branco e da cúpula militar, mesmo correndo o risco de ser cassado, ressaltou a importância do ex-presidente João Goulart - deposto pelo regime militar, em 1964 - na entrega da obra. “Manda a justiça e exige a história que grande parte dessa obra se deve ao antecessor de sua excelência, o ex-presidente João Goulart”, disse Távora na ocasião.
O episódio de Paulo Afonso, diz Juarez Leitão, suscita a lembrança de que ele primava antes pela justeza, independente de posicionamentos, o que por pouco não causou a sua deposição.
Constituinte
Ex-presidente do Congresso Nacional, o cearense Mauro Benevides não esquece a participação de Távora na Constituição, como membro da Assembleia Nacional Constituinte. Virgílio passou os últimos meses de vida ajudando na elaboração da Carta Magna de 1988. “Mesmo acompanhado daquela moléstia que o acometeu (câncer), ele sempre demonstrava preocupação em cumprir o seu dever e trabalhar pelos interesses do Ceará, do Nordeste e do País”.
Virgílio fez a articulação do capítulo da Constituição sobre a ordem econômica. E ele teve uma luta pelos interesses do Nordeste. “No Executivo ou no Legislativo, ele defendia o desenvolvimento do Ceará, do Nordeste e do Brasil”, diz o deputado estadual Salmito Filho (PDT).
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