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sexta-feira, 30 de março de 2018

JESUS REPRESENTADO.

Grupos de diversas localidades de Fortaleza e do interior do Estado encenam a crucificação e ressurreição de Cristo

Fonte:DN/Caderno 3

Paixão de Cristo do Sagrada Família, do bairro Ellery: grupo nasceu em julho de 2005 e agrega mais de 100 jovens da comunidade ( Foto: Marcelo Rebouças/Div. )
Paixão de Cristo da Cia. Teatral Acontece: grupo adapta narrativa religiosa para a linguagem do teatro de rua ( Fotos: Eduardo Ramos/Divulgação )
É com a espiritualidade mendicante - grupos de dentro da Igreja Católica que abraçaram a pobreza como ideal de vida, como a Ordem Franciscana - que começam a busca pela imitação de Cristo. São Francisco de Assis era um dos que buscavam se assemelhar a Jesus.
Foi nesse contexto, de relembrar os momentos vivenciados pelo Messias na terra, que no século XIII a Semana Santa começou a ser vivenciada de maneira mais intensa, incluindo representações dialogadas da Paixão. Na encenação, o ícone do Crucificado é o ponto alto, porque exibe o Sangue de Cristo, objeto de devoção a partir desse século.
Tradição secular, até hoje a celebração da morte e ressurreição de Cristo é encenada em vários lugares. Nesta sexta (30), em vários bairros de Fortaleza e região metropolitana, não é diferente: paróquias, associações de bairros e jovens se reúnem para reviver os últimos dias de Jesus.
O Grupo Sagrada Família, do bairro Ellery, assumiu a encenação há 11 anos, de uma tradicional apresentação conhecida pela comunidade local há mais de 20 anos. O espetáculo tem como ponto inicial a igreja matriz de Nossa Senhora de Lourdes e sai a percorrer as ruas a partir das 7h da manhã.
A peça dos jovens do Ellery faz uma reflexão em cima do tema da campanha da Fraternidade de 2018, "Fraternidade e Superação da Violência". "Além de fazer a encenação de Cristo também será sugerida uma reflexão sobre os dias que vivemos hoje, a partir do debate sobre a violência contra as mulheres, a desigualdade social, a exploração sexual de crianças e adolescentes e o extermínio da juventude", explica o diretor da peça e coordenador do grupo, Wescley Sacramento.

"Será uma grande encenação para defender uma sociedade mais humana. Vai ser pautada a tolerância religiosa em uma das estações. Nós pensamos a Igreja para além de seus muros, queremos uma igreja libertadora que contribua com a vida da sociedade e construa uma cultura de paz", finaliza.
Na rua
A Cia. Teatral Acontece, por sua vez, usa das técnicas do Teatro de Rua para mostrar a vida de Cristo. Hoje (30), às 9h, o palco para a encenação será o Mercado São Sebastião. No mesmo dia, às 19h, o espetáculo acontece em frente à sede da companhia, para os moradores do bairro Monte Castelo.
Com um elenco formado por 20 pessoas, entre atores da companhia e jovens comunidade, a encenação é dividida em cinco atos: a aparição do anjo Gabriel, representada por um mendigo; a Santa Ceia; o julgamento; a crucificação e a ressurreição.
Agraciados pelo XIV Edital Ceará da Paixão 2018, a peça faz parte do projeto "Farias Brito e Monte Castelo têm Paixão". O grupo já realiza o espetáculo há oito anos e o diretor e presidente da companhia, Almeida Júnior, ressalta a importância de o espetáculo ganhar uma nova linguagem.
"É interessante ver que, ao trazer essa encenação para uma linguagem de teatro de rua, não há perda de essência na história. A gente consegue chegar às pessoas, aos populares, pessoas humildes e até pessoas de rua. Quando apresentamos no Mercado São Sebastião é super emocionante, é muito importante trazer uma linguagem popular da Paixão de Cristo", pontua.
Hoje (30) e amanhã (31), a partir das 19h, quem recebe a representação com o tema "Eis o cordeiro de Deus" é o município de Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza. Encenada ao ar livre, na praça do Iguape, a montagem é do grupo de teatro São Pedro e conta com o apoio da Secretaria de Cultura de Aquiraz.
Tradicional
Outro ritual católico, a malhação de Judas acontece entre os momentos da crucificação de Cristo e a sua ressurreição, ou seja, no conhecido Sábado de Aleluia (ou de Queima do Judas). O evento simboliza a morte de Judas Iscariotes, considerado o traidor de Jesus.
Em seu terceiro ano em Fortaleza, o Festival de Malhação do Judas já faz parte da história da comunidade Vila Brasília, do bairro Jardim América.
"O festival vem para falar um pouco da cultura daqui, dos meus pais. Desde a criação da comunidade, que tem essa tradição forte de fazer os bonecos de Judas. Tem família que no ano tira uns 3.400 reais de renda com a produção dos bonecos", aponta Socorro Paulino, presidente da Associação dos Moradores Vila Brasília (Assmovibra).
"Acho que o importante mesmo é mostrar a cultura desse povo, os artesãos têm nessa época um ganho a mais, uma renda extra para ajudar", complementa Socorro.
Idealizado pela Assmovibra e os Amigos do Jardim América e Adjacências (AAJA) o evento conta com a presença de jurados que avaliam os candidatos em quesitos como criatividade, melhor testamento do Judas e figurino, com premiação em dinheiro.
Interpretações
Indo na contramão das tradicionais narrativas que colocam Judas Iscariotes como o inimigo traidor, o Cineteatro São Luiz exibe a peça "Iscariotes. A outra face", de Carlos Vereza.
Com duas sessões em abril, no dia 14, às 20h e no dia 15, às 18h o texto é inspirado no Evangelho de Judas, encontrado numa caverna no deserto egípcio, em El Minya, no ano de 1978.
Em formato de monólogo, o ator e diretor Vereza mostra um Judas diferente e polêmico para as narrativas cristãs, que coloca o evangelho desse apóstolo na lista dos "evangelhos apócrifos".
Os ingressos podem ser encontrados na bilheteria do equipamento cultural ou no site da Tudus (tudus.Com.Br) pelo valor de R$ 50 (inteira).

Programação

30/01
Paixão de Cristo do Grupo Sagrada Família
A partir das 7h, no Bairro Ellery (Matriz Nossa Senhora de Lourdes, na Rua Dr. Atualpa, 430). Gratuito
"Eis o Cordeiro de Deus!"
Às 19h, na Praça do Iguape (Rua Bruno Lopes de Queiroz, S/N - Iguape). Gratuito
Encenação da Paixão de Cristo (Cia. Teatral Acontece)
9h - Mercado São Sebastião (bairro Farias Brito)
19h - Rua João Tomé, 640, Monte Castelo. Gratuito
31/03
3° Festival de Malhação do Judas
Às 19h30, na Praça da Caixa D'Água (Rua Jorge Dumar s/n, Bairro Jardim América). Gratuito
14 e 15/04
Peça "Iscariotes: a outra face" de Carlos Vereza. Às 20h e 18h, respectivamente, no Cineteatro São Luiz (Rua major Facundo, 500, Centro). Entrada: R$ 50 (inteira)
Fique por dentro
Programação de Pacatuba e Senador Pompeu
Uma das encenações mais tradicionais do Estado, a Paixão de Cristo de Pacatuba (foto no alto da página) vai para sua 44º edição. Nesta sexta (30), às 19h, o público se concentra no anfiteatro da cidade, localizado na Praça da Matriz para acompanhar as três horas de duração do espetáculo. A prefeitura, apoiadora do projeto, pede como entrada na encenação a doação de uma lata de leite em pó, para quem quiser ficar na arquibancada, e duas latas, para o camarote. Hoje com um cenário fixo, inaugurado em 1997, inicialmente a montagem tinha recursos escassos. Quem conta a história é o diretor do espetáculo, Antony Fernandes. "Tudo começou com um grupo de cinco jovens, três rapazes e duas moças. O mais velho, Paulo, resolveu criar uma apresentação de Cristo: comprou uma túnica branca e passou a acompanhar o padre pelas ruas da cidade", lembra o diretor. "Eles começaram a criar e eu fiquei trabalhando com eles, mas como Paulo queria fazer um trabalho mais bonito, diferente, resolveram procurar ajuda financeira. Na época a prefeitura não tinha confiança e ele se aborreceu e deixou o projeto", conclui. Anos depois, em 1974, um amigo de Antony resolveu voltar com a encenação por conta própria e o chamou para dirigir o espetáculo. Natural de Aracati e hoje residente de Pacatuba, o homem de 81 anos enfatiza: "comecei cedo. Quase uma vida inteira aqui". Mesmo não aparentando cansaço em sua voz, Antony já prevê passar o bastão de diretor para outro em 2019, quando o espetáculo completa 45 anos. Já o município de Senador Pompeu, localizado a 273km de Fortaleza, recebe o espetáculo "A Inigualável Paixão de Jesus Cristo" em apresentação única a partir das 16h30. A peça tem início na Igreja Matriz, percorre as ruas dos bairros Centro e Caracará e encerra nos arredores da antiga Estação Ferroviária. Encenada por mais de 200 pessoas, a montagem narra a história de Jesus desde a sua chegada a Jerusalém até a ressurreição, em 19 cenas e 13 cenários ao longo de 120 minutos. A expectativa é de um público de mais de três mil pessoas.

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