Alguns dos trabalhadores não têm sequer dinheiro para a condução
Rio - Com três meses de atraso salarial, funcionários do Teatro Municipal do Rio fazem nesta quinta-feira, a partir das 11h, uma assembleia para definir se seguirão trabalhando. Parte deles não tem mais dinheiro para a condução e para a alimentação, o que vem inviabilizando a ida diária à casa, no centro do Rio. Por causa da crise no governo estadual, artistas, técnicos e servidores administrativos não receberam sequer o 13º salário de 2016.
Nesta quarta-feira, terminou a temporada popular de "Carmina Burana", levada ao palco pelo coro, orquestra e balé como forma de resistência à penúria. Foram quatro récitas a preços abaixo dos praticados usualmente, todas lotadas. Antes das apresentações, o locutor do Municipal leu um texto que falava da situação de desespero dos corpos artísticos e o restante da equipe. O público, que levou doações de alimentos, como vem fazendo desde o início da campanha SOS Teatro Municipal, em maio, reagiu calorosamente, com muitas palmas e gritos de "Fora Pezão" e "Fora Temer".
"Esse espetáculo é fruto da iniciativa e esforço dos servidores e de funcionários dessa fundação. Estamos dispostos a continuar servindo ao público com nossa arte, porém, com três folhas salariais em atraso, chegamos ao limite das nossas forças, possibilidades e dignidade. Esse espetáculo também é devido ao engajamento da população do Rio de Janeiro, que aderiu de forma tão solidária e carinhosa nossa campanha SOS Teatro Municipal para a arrecadação de alimentos e distribuição de cestas básicas Perdurando essa situação de atraso, entretanto, não sabemos até quando será possível manter as atividades e a programação", dizia o texto.
Sem figurino, o balé apresentou coreografia inédita de Rodrigo Neri, bailarino do corpo de baile do teatro - não havia como dançar a coreografia original, já apresentada no passado no Municipal e de autoria do argentino Mauricio Wainrot, porque faltava dinheiro para pagar por seus direitos autorais, contaram funcionários. A regência foi do maestro titular, Tobias Volkmann
"Foi emocionante. Fomos ovacionados, os aplausos eram intermináveis. Montamos o espetáculo para mostrar que, apesar de tudo, estamos trabalhando. O público está conosco. Não sabemos o que vamos fazer agora. Talvez possamos repetir no dia 14 de julho, que é o aniversário do teatro (de 108 anos)", diz Pedro Olivero, representante do coro.
Ato na Cinelândia
Os artistas chegaram a realizar um protesto no dia 9 de maio deste ano, na Cinelândia, Centro do Rio. O protesto contou com apresentações do grupo de bailarinos e músicos da casa e reuniu um grande número de observadores em frente às escadarias da entrada principal. Artistas e simpatizantes que manifestaram apoio ao movimento e criticaram o que chamam de “desrespeito do estado com a cultura nacional”.
O Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Públicas da Ação Cultural do Rio de Janeiro (SINTAC-RJ), que representa os artistas e o corpo administrativo do teatro, afirma que muitas apresentações, incluindo o ballet ‘O Lago dos cisnes’, do russo Tchaikovsky, foram canceladas e a ópera ‘Norma”, de Vicenzo Bellini, precisou ser transformada em concerto como consequência da crise financeira.
Segundo o presidente do SINTAC-RJ, Pedro Olivero, caso os salários não sejam regularizados, as atividades no teatro correm o risco de ser paralisadas. “Muitos bailarinos estão sem dinheiro para arcar com os custos de passagem e alimentação. Temos funcionários que já foram despejados e outros que estão passando fome”, ressaltou.
Segundo ele, o Theatro Municipal conta com 550 colaboradores, entre artistas, produtores e corpo administrativo. O orçamento anual da casa gira em torno de R$ 50 milhões, dos quais R$ 2 milhões mensais são destinados ao pagamento dos funcionários.
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