Farias Brito enfrenta um surto, quase todos adoeceram em Catarina, mas Pedra Branca continua sem registros
FONTE:DN/REGIONAL
por André Costa / Honório Barbosa - Colaboradores
Farias Brito/Catarina/Pedra Branca. Localizada no Sul do Ceará, Farias Brito enfrenta um surto de dengue neste ano. Segundo dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, a cidade possui a maior incidência de dengue em todo o Brasil, com registro médio de 1.527,5 casos para cada 100 mil habitantes. Até o fim de abril, tinham sido confirmados 287 casos de dengue no município. Em quatro meses, o número já é 322% maior do que o registrado em todo o ano passado.
Os bairros Centro e Nova Betânia e a comunidade Quincuncá são os de maior incidência. Das 14 localidades assistidas pelos Agentes de Combate de Endemias (ACEs), apenas seis estão com índice de infestação predial abaixo do aceitável pelo Ministério da Saúde, de 1%.
Segundo a secretária de saúde do Município, Sheyla Martins, vários fatores podem explicar o alto número de casos confirmados de dengue: "A população estava bastante suscetível ao vírus, já que nunca tínhamos registrado epidemia de dengue. Nos últimos anos, os números sempre estiveram dentro da normalidade. Neste ano, maior intensidade nas chuvas, tempo quente e a quantidade de imóveis fechados, sem que nossos agentes pudessem depositar a larvicida, acreditamos que favoreceram a proliferação do mosquito".
A titular da pasta reconhece que a quantidade de agentes de endemias em Farias Brito no ano passado estava abaixo do que preconiza o Ministério da Saúde. O órgão estima que para cada 800 a mil imóveis, o Município deve dispor de um agente. Em Farias Brito, no passado, apenas cinco agentes atuavam em 6.785 imóveis urbanos trabalhados no Programa de Controle e Prevenção das Arboviroses.
Com o número diminuto de ACEs, o tempo entre um ciclo de inspeção e outro, que deve ser a cada mês, conforme preconizado pelo Ministério, tende a subir. Em 2016, os agentes levaram 56 dias para repetição do ciclo em Farias Brito. "Acima do ideal", reconheceu o coordenador das endemias, Ailton Pereira. Para reverter o quadro de epidemia, ele garante que a equipe foi reforçada desde o início do ano. "Em janeiro, aumentamos para sete e, no mês passado, chegamos a dez agentes, ultrapassando a média ideal estipulada pelo Ministério", pontuou.
A secretária destacou, ainda, que as campanhas educacionais realizadas no ano passado não surtiram tanto efeito. "Os agentes são sim importantes para a prevenção, mas a população deve atuar junto com o governo no combate ao mosquito".
O supervisor de controle de endemias do município, Francisco Severino Filho, ponderou que o número de imóveis fechados também pode ser um fator agravante. "Tivemos mais de 1,5% de pendência nas casas visitadas. Isso representa que, se um desses imóveis possuir foco do mosquito, as casas circunvizinhas, que foram visitadas, estão em risco", alertou.
Além de dobrar o quadro de agentes, a gestão municipal solicitou à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) um carro fumacê para as áreas de maior risco e afirmou que as campanhas educativas serão intensificadas.
Os nove Postos de Saúde da Família (PSF) e o Hospital Municipal, tiveram aumento significativo nos atendimentos. "Os casos mais simples, de menor risco, são atendidos nos PSFs, que estão suportando bem. Os que demandam maior atenção, são trazidos para o Hospital, assim como aqueles que apresentam os sintomas das doenças e são submetidos aos exames", explicou a gerente do hospital, Patrícia Lopes. Em março do ano passado, a unidade atendeu 2.763 pacientes, em março deste ano, o número saltou para 4.300.
Cidade doente
Catarina, no Centro-Sul do Ceará, enfrentou um surto epidêmico de chikungunya, além de registros de dengue nos meses de fevereiro, março e abril. A maioria dos moradores foi acometida pelas doenças e, naquele período, a Unidade Mista de Saúde Gentil Domingues chegou a atender por dia 300 pessoas com sintomas de arboviroses.
Conforme a Secretaria da Saúde do Município, nos quatro primeiros meses deste ano foram confirmados 346 casos de chikungunya e 37 de dengue. De nove casos suspeitos de zika vírus em gestante, cinco foram descartados e quatro aguardam resultado dos exames de sorologia. Muitas vezes, os números oficiais estão aquém da realidade, por subnotificação.
O diretor da unidade de Saúde, Jardel Mendonça, disse que, agora em maio, o Município está voltando à normalidade. "O atendimento diário, em média, caiu para 70 pessoas, que se queixam dos sintomas de dengue e chikungunya", frisou. "Quase toda a população ficou doente".
A secretária de Saúde de Catarina, Valéria Rodrigues, confirma que houve uma redução drástica e que o surto das doenças está associado à necessidade da população de armazenar água distribuída por carro-pipa. O açude São Gonçalo secou e a cidade enfrenta crise grave de desabastecimento. "O município adotou um conjunto de ações: telou caixas, distribuiu telas, fez mutirões, campanhas educativas e nós ainda estamos em campo", frisou Valéria Rodrigues.
15 anos sem dengue
Pedra Branca, no Sertão Central, em 2016, chegou a 15 anos sem dengue por transmissão local. Os casos confirmados foram importados de cidades vizinhas. Esse cenário permanece. "Tivemos três confirmações, duas para chikungunya e uma para dengue", disse o coordenador de endemias do município, Stanley Cavalcante Lima Melo.
No último trimestre de 2016 houve, segundo ele, uma descontinuidade das ações de combate aos focos do mosquito, pela administração anterior. "Recebemos o município com índice de 5% de infestação. Em fevereiro reduzimos para 1,78% e depois para 1,38%".
Fique por dentro
Ceará e Roraima na contramão do resto do País
De um modo geral, o Brasil tem conseguido diminuir os números de casos de dengue, chikungunya e zika nos primeiros meses de 2017, em relação ao mesmo período do ano passado. A dengue passou por uma redução de 90,4% nos casos prováveis, enquanto a zika reduziu 95,4% e a chikungunya, 68,1%. No entanto, Ceará e Roraima são os dois únicos estados na contramão desta redução. O Ceará registrou, em 2016, 13.548 ocorrências prováveis de dengue. Nos primeiros quatro meses deste ano, o índice já chega a 15.826. Já os casos de chikungunya, passaram de 4.294 possíveis no ano passado para 17.012 em 2017.
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