Os 70 anos de desativação dos bondes elétricos possuem uma história marcante para a Capital cearense
Fonte:DN/Cidade
Foi em fevereiro deste ano que se completaram 70 anos da desativação dos bondes elétricos na Capital. Sete décadas depois, a Prefeitura acena com a possibilidade de retomada desse meio de transporte, informação repassada no processo de reordenamento da Rua José Avelino e adjacências. A ideia, ainda bastante inicial, divide historiadores e pesquisadores de Fortaleza, que se manifestam entre os sentimentos da retomada de um elemento de grande relação afetiva com a cidade e outros que veem como de pouca utilidade, diante das prioridades demandadas pela metrópole.
A assessoria de comunicação social do Município afirma que não há projeto ou estudos que já reforcem a sinalização do prefeito Roberto Cláudio. Na gestão da então prefeita Luizianne Lins, também houve o propósito de instalar bondinhos no entorno da Avenida Beira-Mar, como parte do projeto de requalificação da orla. A assessoria de imprensa do atual prefeito não descarta e nem confirma a manutenção desse equipamento dentro do projeto de remodelamento do trecho da orla marítima, que é uma espécie de cartão postal para atrair os visitantes.
Na José Avelino, foram instalados trilhos de pedras, mas que não eram para os bondes e sim para veículos pesados que faziam transportes de mercadorias dos armazéns instalados no entorno até a ponte metálica, na Praia de Iracema, antigo porto da Capital.
Transformação
O fato é que os 70 anos de desativação do bonde elétrico possuem uma história marcante para Fortaleza. O professor de História, Sebastião Rogério da Ponte, relaciona o bonde com a Belle Époque (bela época, que foi patrocinada pelas elites do século XIX, quando o trem rolava sobre os trilhos mas era puxado por animais de tração, até o século XX), momento em que o bonde elétrico representava uma grande transformação da cidade, que crescia, ganhava também energia elétrica e aumentava suas demandas por transporte público. Em paralelo, esses fatores realçavam as diferenças entre as áreas atendidas por esse meio de transporte, onde residia a população mais abastada, e as que não eram atendidas pelos veículos e por isso mesmo, como diz Sebastião Rogério, bastante ressentidas.
"A Belle Époque pode ser situada na década de 1880, quando surgiram em Fortaleza o bonde puxado por animais, o telefone, o telégrafo, o Passeio Público e a Praça do Ferreira. Ali nascia o primeiro transporte coletivo para uma cidade que se expandia", conta o historiador. No entanto, chama a atenção para o fato de que mesmo assim havia discriminação social. Para ser usuário, era obrigatório o uso de terno, gravata e sapatos, o que deixava a maior parte da população sem acesso ao serviço.
Os primeiros bondes sem tração animal chegaram em 13 de abril de 1913 e a inauguração se deu no dia 9 de outubro do mesmo ano. Esses veículos foram administrados pela iniciativa privada, por meio da The Ceará Tramway Light and Power Co. Ldt, a Light. Os serviços continuaram elitistas, mas, com o crescimento da população da Capital, tanto a classe operária como estudantes, ficava difícil exigir terno e gravata para os passageiros. Dessa forma, surgiram transportes, com preços diferenciados para estudantes e as camadas mais pobres da população.
"Os bondes elétricos eram silenciosos. Havia um orgulho especial de moradores de ruas por onde ele passava, a despeito daqueles que não dispunham do serviço", conta Sebastião Rogério. O historiador também lembra que os equipamentos eram espaço de flerte e paquera.
O pesquisador e jornalista Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, também vê com saudosismo os tempos em que os bondes eram o principal e mais moderno meio de mobilidade de Fortaleza. Ele conta que aos oito anos fez sua primeira viagem. "Eram trajetos curtos. Os bondes tinham uma velocidade de 20Km por hora. O percurso mais longo consistia na ligação do Centro ao Antônio Bezerra", recorda.
Para Nirez, a retomada dos bondes na atual conjuntura acaba sendo um fato interessante, mas não vê como uma necessidade. Para ele, diante de tantas demandas sociais e restrições de recursos, as administrações tem outras prioridades.
Fique por dentro
Primeiros anos foram de serviço ruim e protestos
Os primeiros anos do bonde elétrico foram marcados pela baixa renda e a consequente precariedade, o que acarretou protestos por parte de usuários. A partir de 1925 foram feitas medidas para o melhoramento do serviço, construindo-se a nova linha para a Vila Messejana. Em maio de 1945 a Light decidiu passar a empresa às mãos estatais, iniciando as negociações com o governo, que, por fim, assumiu o sistema. O serviço de bondes foi extinto em Fortaleza no ano de 1947.
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