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terça-feira, 20 de setembro de 2016

CASAL RODA PELO O BRASIL PARA 'CAÇAR BONS EXEMPLOS' QUE SOLUCIONEM PROBLEMAS DO PAÍS.

Néli Pereira

Iara e Eduardo XavierImage copyrightCAÇADORES DE BONS EXEMPLOS
Image captionEles já visitaram mais de 1,1 mil projetos pelo país
"Tire o bumbum do sofá e venha colocar a mão na massa, pare de reclamar e falar de problemas e venha buscar as soluções". É assim que Iara Xavier traduz a frase de Gandhi que fez ela e o marido largarem tudo, há seis anos, para buscar histórias de pessoas e projetos que mudem o país.
A frase original é "Seja a mudança que você quer ver no mundo" e foi isso que ela e o marido, Eduardo, começaram a fazer em janeiro 2011 quando venderam a casa, pediram demissão do emprego e foram para a estrada como os "Caçadores de Bons Exemplos", para conhecer gente que se dedica a ajudar os outros.
Desde então, os dois calculam ter percorrido mais de 225 mil quilômetros. "Paramos de contar", diz Iara numa mensagem de WhatsApp trocada com a BBC Brasil enquanto os dois estavam na estrada.
"Nós estávamos cansados de notícias ruins: guerra, tráfico, criança morrendo de fome ou sem escola, idosos sendo maltratados, desigualdade, corrupção. Tínhamos a necessidade de fazer algo para mudar a situação - parar de ser espectador para sermos personagens da transformação", prossegue Iara.

Iara e Eduardo XavierImage copyrightCAÇADORES DE BONS EXEMPLOS
Image captionO casal visita o Lar da Criança, em Uruguaiana

Do bem

Eles já percorreram todos os Estados do Brasil e visitaram mais de 1,1 mil projetos - entre ONGs, pessoas comuns que fazem ações comunitárias, associações e outros tipos de ajuda social. A cada cidade que chegam a tática é a mesma: param as pessoas nas ruas perguntando "quem é um bom exemplo para você?", "quem faz a diferença na cidade?".
Com essas informações, eles organizam visitas a esses locais - sem avisar antes -, para conhecer os projetos e registrar tudo em um grande banco de dados: o site do Caçadores de Bons Exemplos.
Entre os mais de mil locais pelos quais passaram e conheceram, eles destaca alguns exemplos que o impressionaram, como o Saúde Criança, iniciado em 1991 no Rio de Janeiro, que almeja tratar as causas de fundo de problemas de saúde infantis - como a miséria e o risco social - para reduzir as internações hospitalares de crianças.
Outros projetos considerados pioneiros pelo casal é o Centro Popular de Desenvolvimento, responsável por ações educacionais em quatro Estados brasileiros, o Banco Palmas, o primeiro banco comunitário brasileiro, o Programa União faz a Vida, que desenvolve empreendedorismo e solidariedade, e a Fundação Gol de Letra, dos ex-jogadores Raí e Leonardo.
Mais recentemente, os "Caçadores" lançaram um aplicativo que detalha os locais visitados e é aberto a pessoas que queiram indicar outros projetos que considerem transformadores.
"A ideia é criar uma rede social do bem. A pessoa pode ir a um projeto, tirar uma foto, incluir informações e publicar direto no aplicativo. Isso serve para falar sobre problemas, sim, mas também para que a gente possa apontar soluções e as pessoas que estão indo em busca das soluções. O aplicativo é uma plataforma para as pessoas falarem sobre projetos, para quem queira ajudar, para ser mais fácil encontrar esses projetos sociais no mapa", afirma Iara.
Os dois também já lançaram um livro contando um pouco dos quatro primeiros anos da viagem e de alguns dos projetos visitados.
Iara e Eduardo XavierImage copyrightCAÇADORES DE BONS EXEMPLOS
Image captionEduardo e Iara estão na estrada há quase seis anos

Busca de soluções

O dinheiro da venda da casa e da rescisão dos contratos de trabalho já foi gasto. Hoje eles dão palestras e vivem no espírito proposto por seu projeto: contam com a solidariedade das pessoas.
"Não temos patrocínio, vínculo religioso ou político. A gente pergunta: o que você pode me dar? E vivemos com o que de melhor as pessoas têm a nos dar. Tem gente que pode nos dar um banho quente, uma refeição, almoçar aqui, jantar ali, encher o tanque do carro, comprar as camisetas e os livros do nosso projeto para doação, e a gente vai vivendo assim. No caminho, encontramos pessoas vivendo dessa economia colaborativa, solidária".
Uma barraca montada em cima do carro garante o repouso noturno, normalmente em algum estacionamento de posto de gasolina.
Eles têm palestras agendadas até março de 2017, mas não cobram honorários. "Em contrapartida, as empresas compram nosso livro e distribuem para os participantes. Eles pagam ainda custos de logística e alimentação para chegarmos às cidades", contou Iara.
Para eles, o que mudou nesses anos todos foi perceber que "apesar de o Brasil estar cheio de problemas, também cheio de pessoas buscando soluções".
"Nós encontramos pessoas assim em todos os Estados brasileiros - em cada ponto, no interior, no sertão, na capital, no litoral. Tem muita gente que está construindo um país melhor. A gente costuma dizer que o maior tesouro do Brasil é o povo brasileiro, solidário e criativo para ir atrás das soluções", conta.
"Visitamos projetos de todas as linhas - cultural, ambiental, com animais, crianças, idosos -, mas a gente não faz categorização disso porque acreditamos que é tudo interdependente. Para nós, é tudo educação. Dos projetos que a gente conheceu, uma coisa bem interessante em comum entre eles é uma fé incondicional no ser humano", conta Iara.
Iara e Eduardo XavierImage copyrightCAÇADORES DE BONS EXEMPLOS
Image captionO casal já percorreu todos os estados do Brasil

Protagonismo

Neste ano de eleições municipais, o casal espera que os bons exemplos sirvam de inspiração tanto para candidatos como para eleitores.
"O mais importante de mostrar esses bons exemplos é tentar fazer com que os políticos que têm a caneta na mão possam usá-la para transformar essas ideias em políticas públicas e escrever não somente a história da vida deles, mas reescrever uma história de construção de um país melhor".
Na outra ponta, Iara também acredita que esses exemplos podem afetar diretamente quem vive reclamando do país.
"As pessoas têm mania de institucionalizar a culpa. 'A culpa é do governo, da Igreja, da escola'... mas essas instituições são feitas por pessoas, então a culpa é das pessoas, e não das instituições em si. Quando temos a consciência de trazer para as pessoas, para nós, essa responsabilidade ou corresponsabilidade de transformação, tudo muda. Fazer intercâmbio de ideias positivas pelo Brasil todo também é uma forma de fazer política".

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